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A população do Equador está indo às urnas neste domingo (20), mas a decisão do dia não é apenas para um novo presidente no país. Pela primeira vez na história, o povo decidirá o destino da extração de petróleo na Amazônia equatoriana.

O referendo dará aos eleitores a chance de decidir se as empresas petrolíferas podem continuar a perfurar em um dos lugares de maior biodiversidade do planeta, o Parque Nacional Yasuní, lar das últimas comunidades indígenas isoladas no Equador.

O parque abrange cerca de um milhão de hectares no ponto de encontro da Amazônia, dos Andes e do Equador. Apenas um hectare de terra Yasuní supostamente contém mais espécies animais do que toda a Europa e mais espécies de árvores do que existem em toda a América do Norte.

Mas embaixo da terra está a maior reserva de petróleo bruto do Equador.

A votação do referendo foi pressionada pelo Yasunidos, um coletivo ambiental do país. “Estamos liderando o mundo no combate às mudanças climáticas, ignorando os políticos e democratizando as decisões ambientais”, disse Pedro Bermo, porta-voz do coletivo.

Foi uma batalha de uma década que começou quando o ex-presidente Rafael Correa propôs que a comunidade internacional desse ao Equador US$ 3,6 bilhões para não interferir no parque.

Mas o mundo não acatou a proposta da maneira como Correa esperava. Em 2016, a petrolífera estatal equatoriana iniciou a perfuração do Bloco 43 – cerca de 0,01% do Parque Nacional – que hoje produz mais de 55 mil barris por dia, o que representa cerca de 12% da produção de petróleo do Equador.

Mas uma campanha contínua e insistente conseguiu alguns realizar alguns feitos: em maio, o tribunal constitucional do país autorizou a inclusão do voto na cédula da próxima eleição.

Duas faces da eleição

A decisão sobre o futuro da Amazônia será fundamental para o futuro da economia do Equador. Os defensores de continuar perfurando a região acreditam que a perda de oportunidades de emprego seria desastrosa.

“Os defensores de que o petróleo permaneça no subsolo o fizeram há dez anos, quando não havia nada. 10 anos depois nos encontramos com 55.000 barris por dia, são 20 milhões de barris por ano”, disse o ministro da Energia, Fernando Santos, a uma rádio local.

“A US$ 60 o barril são US$ 1,2 bilhão”, acrescentou. “Isso pode causar danos enormes ao país”, disse ele, referindo-se aos danos econômicos e negando que tenha havido danos ambientais.

Alberto Acosta-Burneo, economista e editor do boletim Weekly Analysis, disse que o Equador estaria “dando um tiro no próprio pé” se interrompesse a perfuração. Em um vídeo postado no X, anteriormente conhecido como Twitter, ele disse que, sem cortar o consumo, toda essa mobilização apenas significaria que outro país iria vender combustível para o Equador.

Por outro lado, os ativistas contra a perfuração têm propostas para preencher essa lacuna econômica. Elas vão desde a promoção do ecoturismo e a eletrificação do transporte público até a eliminação de isenções fiscais.

Eles afirmam que cortar os subsídios aos 10% mais ricos do país geraria quatro vezes mais do que se obtém extraindo petróleo de Yasuní.

“Esta eleição tem duas faces”, explicou Bermo. “Temos a violência, os candidatos, os partidos e as mesmas máfias políticas que governaram o Equador sem mudanças significativas de um lado”.

“Mas o referendo representa o contrário – uma campanha cidadã cheia de esperança, alegria, arte, ativismo e muito trabalho coletivo para salvar este lugar. Estamos muito otimistas.”

Entre os que fazem campanha para interromper a perfuração está Helena Gualinga, uma defensora dos direitos indígenas que vem de um vilarejo remoto na Amazônia equatoriana – onde vive a comunidade Kichwa Sarayaku.

“Este referendo apresenta uma grande oportunidade para criarmos mudanças de maneira tangível”, disse à CNN.

Para Gualinga, o mais importante do referendo é que, se Yasunidos vencer, a petroleira estatal terá o prazo de um ano para encerrar suas operações no Bloco 43.

Ela explicou que algumas empresas de petróleo deixaram áreas na Amazônia sem encerrar as operações e restaurar a área adequadamente. “Esta sentença significaria que eles teriam que fazer isso.”

Já os que desejam continuar perfurando na área argumentam que seria impossível cumprir o prazo de um ano para desmantelar as operações.

Emergência global

O referendo acontece quando o mundo enfrenta temperaturas escaldantes. Cientistas afirmaram que julho de 2023 foi o mês mais quente já registrado, e a Amazônia se aproxima do que os estudos sugerem ser um ponto de inflexão crítico que pode ter implicações graves na luta para combater as mudanças climáticas.

E de acordo com Antonia Juhasz, Pesquisadora Sênior em Combustíveis Fósseis, é hora de o Equador fazer a transição para uma era pós-petróleo. O PIB do Equador a partir do petróleo caiu significativamente nas últimas décadas: de cerca de 18% em 2008 para pouco mais de 6% em 2021.

Ela acredita que os benefícios de proteger a Amazônia superam os benefícios de manter a dependência do petróleo, principalmente considerando o custo dos derramamentos regulares de óleo e as consequências do agravamento da crise climática.

“A Amazônia vale mais intacta do que em pedaços, assim como seu povo”, disse ela.

Veja também: Assassinato de Villavicencio mudou o foco das eleições no Equador

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