O Itamaraty tenta ajudar no fim de um impasse entre Colômbia e Peru que deixou acéfalo um organismo internacional com sede em Brasília e tornado prioridade pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Trata-se da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), estrela da Cúpula de Belém, realizada no ano passado com o objetivo de alinhar políticas ambientais para a preservação da maior floresta tropical do planeta.

Oito países fazem parte da organização: Brasil, Colômbia, Peru, Venezuela, Bolívia, Equador, Guiana e Suriname. Seus presidentes e chanceleres não se reuniam havia 14 anos, o que transformou o encontro na capital paraense em símbolo de reativação efetiva da OTCA.

Poucos meses depois, no entanto, ela tornou-se vítima de um impasse diplomático. Terminou em janeiro o mandato da boliviana María Alexandra Moreira López como secretária-geral. Sua sucessão obedece a um rodízio entre os países-membros, por ordem alfabética, e depende de aprovação por unanimidade.

Aí surgiu a indefinição. A Colômbia, a quem cabia escolher a nova chefia da organização, indicou o antropólogo Martín von Hildebrand, um premiado ambientalista e ativista dos direitos indígenas. Ele é próximo do presidente Gustavo Petro.

O governo do Peru, contudo, jamais se manifestou a favor e travou sua nomeação. O impasse já dura quatro meses. Havia expectativa de solução na última sexta-feira (24), em um aguardado encontro entre os chanceleres colombiano e peruano em Lima, por ocasião do aniversário da Comunidade Andina de Nações — mas a reunião acabou sendo cancelada.

O Peru ainda está incomodado com a postura de Petro, que criticou o impeachment e a prisão do ex-presidente Pedro Castillo, por uma tentativa de autogolpe em 2022. Ambos são de esquerda. O Congresso declarou o colombiano “persona non grata”.

A indefinição tem dificultado os trabalhos da OTCA, que pouco avançou nas missões recebidas dos chefes de Estado na cúpula de agosto do ano passado.

O comando temporário da organização está nas mãos da diretora-executiva, Vanessa Grazziotin, ex-deputada e ex-senadora pelo PC do B de Amazonas. Ela foi indicada em janeiro.

O impasse frustra os planos do governo Lula, que via a OTCA como um dos poucos espaços possíveis para impulsionar a integração sul-americana diante das divergências ideológicas cada vez maiores na região.

No Mercosul, Lula sequer esteve pessoalmente até agora com o argentino Javier Milei, que tomou posse em dezembro de 2023.

A tentativa brasileira de recriar a Unasul também falhou, com um mal-estar escancarado do uruguaio Luis Calle Pou e do chileno Gabriel Boric com o venezuelano Nicolás Maduro na cúpula de presidentes da América do Sul em Brasília, em maio do ano passado.

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